Postado Por : TramaFC 9.4.13

Os amantes do futebol provavelmente devem sentir falta de uma seleção que marcou as décadas de 1980, 1990 e no começo dos anos 2000. A seleção a qual me refiro era chamada de "brasileiros do Leste Europeu" graças à grande habilidade de seus jogadores. Essa seleção, apesar da grande aptidão técnica, não existe mais devido a Guerra dos Bálcãs que separou a Iugoslávia em seis países (Sérvia, Croácia, Eslovênia, Macedônia, Montenegro e Bósnia-Herzegovina) e duas províncias autônomas (Kosovo e Vojvodina).

A Iugoslávia fora uma das seleções mais competitivas e temidas do futebol durante toda a sua existência. Apesar de seu primeiro jogo oficial, no dia 28 de agosto de 1920, nas Olimpíadas de Antuérpia, os "Plavis" (azuis, em sérvio) terem sofrido uma goleada implacável da Tchecoslováquia por 7x1, o futebol se desenvolveu velozmente nos Bálcãs.

Em sua história, a Iugoslávia disputou oito Copas do Mundo (Uruguai-1930, Brasil-1950, Suíça-1954, Suécia-1958, Chile-1962, Alemanha-1974, Espanha-1982, Itália-1990 e França-1998). As melhores colocações da temida seleção fora o terceiro lugar em 1930 e o quarto lugar em 1962. Já na Eurocopa, a Iugoslávia participou de cinco edições (França-1960, Itália-1968, Iugoslávia-1976, França-1984 e Bélgica/Holanda-2000). As melhores colocações foram os vice-campeonatos de 1960 e 1968.

Entretanto, a melhor campanha internacional da Iugoslávia deu-se nas competições amadoras do futebol, tais quais os jogos olímpicos e os campeonatos de base. Os Plavis foram campeões olímpicos de 1960, em Roma, ao derrotar a Dinamarca por 3x1 (01/1º Galic-IUG, 10/1º Matous-IUG, 05/2º Nielsen-DIN e 27/2º Kostic-IUG). Além dessa campanha, a Iugoslávia conquistou três medalhas de prata (Inglaterra-1948, Finlândia-1952 e Austrália-1956) e uma medalha de bronze (Estados Unidos-1984).

No entanto, o título que mais marcou a geração iugoslava fora o modesto Campeonato Mundial Sub-20, no Chile. A Iugoslávia derrotou a Alemanha Ocidental, nos pênaltis, por 5x4, após empatar no tempo regulamentar por 1x1 (Boban e Witeczek). Porém, o que mais chamou a atenção foi a geração de ouro do Leste Europeu. Nessa equipe atuaram grandes estrelas como: Zvominir Boban, Robert Prosinecki, Davor Suker, Predrag Mijatovic, Robert Jarni e Igor Stimac. O treinador do elenco campeão, e que encantou o mundo no Chile, era Mirko Josic, que gostou tanto do país que assinou com o Colo Colo logo após vencer a competição (conquistou dois campeonatos chilenos e uma Libertadores da América). Dos 18 jogadores que venceram o Mundial Sub-20, quatro já estavam na equipe iugoslava que disputou a Copa do Mundo, na Itália-1990, e cinco destes 18 estavam na Copa do Mundo de 1998, na França, com a seleção da Croácia.

Porém, apesar do grande estardalhaço que esse grupo de jogadores talentosos gerou, algo a mais estava para acontecer e que iria interromper o brilho desses jogadores: a guerra. A Iugoslávia era uma região pequena para uma enorme pluralidade étnica. A raça e o credo eram os motivos que sempre resultavam em conflitos armados mesmo quando o país estava unificado. Durante a Segunda Guerra Mundial, a Republica Federativa da Iugoslávia havia se dissolvido antes de voltar com todos os seis países. Depois do final da Segunda Guerra, a Iugoslávia voltou graças à força da milícia do Marechal croata Josip Tito, que ao unificar a Iugoslávia implantou no país um regime comunista.

Em 1992, a Iugoslávia se dissolveu de vez após a morte do marechal Tito, que era acusado de ser nazista, assim como os sérvios chamam os croatas. Tito sabia da dificuldade que era governar um país que vivia sempre em ebulição, tanto é que certa vez ele disse: "Seis repúblicas, cinco etnias, quatro línguas, três religiões, dois alfabetos e um partido". A partir de então, a Iugoslávia não contava mais com a Croácia e a Eslovênia em seu território. Nesse ano, a Iugoslávia fora banida da Euro justamente por causa da Guerra dos Bálcãs.

A guerra refletiu fortemente no futebol, tanto é que o desempenho da Iugoslávia, sem a Croácia, decaiu muito. O resultado disso foi o ótimo desempenho da Croácia na Copa do Mundo, na França-1998, quando conquistou o terceiro lugar ao derrotar a Holanda por 2x1 (13/1º Prosinecki-CRO, 21/1º Zenden-HOL e 35/1º Suker-CRO), e a eliminação precoce da Iugoslávia, diante da Holanda, nas oitavas-de-final, por 2x1 (38/1º Bergkamp, 3/2º Komljenovic e 45/2º Davids).

A última partida oficial da Iugoslávia, antes do desmembramento da Bósnia e da Macedônia, fora na Euro-2000, onde ela perdera, nas quartas-de-final, mais uma vez para a Holanda, só que por 6x1 (24'38/1º Kluivert-HOL, 6/2º Govedarica-IUG, 9/2º Kluivert-HOL, 33/2º Overmars-HOL, 45/2º Milosevic-IUG, 46/2º Overmars-HOL). Apesar da eliminação, Savo Milosevic fora o artilheiro desta edição com seis gols (Milosevic é o jogador com mais aparições na Iugoslávia com 101 jogos. Stjepan Bobek é o artilheiro com 38 gols). A última aparição da Iugoslávia, antes de  dissipar-se por completo em 2006, e então virar Sérvia e Montenegro, fora num amistoso contra a França, em 2002, no qual perdera por 3x0.

Desde o desmembramento total da Iugoslávia em 2006, a Sérvia disputou o Mundial de 2006 com Montenegro (Montenegro, ainda que sozinha, não conquistou nada) e o Mundial de 2010. A Croácia, mais prolífica, participou de quatro Eurocopas (Inglaterra-1996, Portugal-2004, Suíça/Áustria-2008 e Polônia/Ucrânia-2012) e três Copas do Mundo (França-1998, Coréia do Sul/Japão-2002 e Alemanha-2006). A tímida Eslovênia, que vinha se encontrando no futebol nos últimos anos, participou de duas Copas do Mundo (Coréia do Sul/Japão-2002 e África do Sul-2010) e de uma Eurocopa (Bélgica/Holanda-2000). Enquanto isso, Bósnia e Macedônia ainda não conseguiram caminhar com as próprias pernas.

Como seria a Iugoslávia para a Copa do Mundo no Brasil?
Caso não houvesse a Guerra dos Bálcãs, a Iugoslávia, assim como em outrora, poderia ter uma das melhores seleções do mundo. Considerando que cada uma das seis nações que compunham a antiga Iugoslávia cedessem ao menos dois jogadores cada, e partindo da premissa de que só se pode levar 23 jogadores para um Mundial, além de contar apenas com jogadores que participam/participaram das Eliminatórias para o Mundial de 2014, no Brasil, eu convocaria os seguintes atletas:

Goleiros: Samir Handanovic (Eslovênia/Internazionale), Stipe Pletikosa (Croácia/Rostov-RUS) e Asmir Begovic (Bósnia/Stoke City).
Laterais: Darijo Srna (Croácia/Shakhtar Donetsk), Branislav Ivanovic (Sérvia/Chelsea), Aleksandar Kolarov (Sérvia/Manchester City) e Goran Popov (Macedônia/West Bromwich).
Zagueiros: Nemanja Vidic (Sérvia/Manchester United), Neven Subotic (Sérvia/Borussia Dortmund), Matija Nastasic (Sérvia/Manchester City) e Stefan Savic (Montenegro/Fiorentina).
Volantes: Josip Ilicic (Eslovênia/Palermo) e Jasmin Kurtic (Eslovênia/Palermo)
Meias: Luka Modric (Croácia/Real Madrid), Ivan Rakitic (Croácia/Sevilla), Miralem Pjanic (Bósnia/Roma), Senad Lulic (Bósnia/Lazio) e Sejad Salihovic (Bósnia/Hoffenheim)
Atacantes: Stevan Jovetic (Montenegro/Fiorentina), Mirko Vucinic (Montenegro/Juventus), Goran Pandev (Macedônia/Napoli), Mario Mandzukic (Croácia/Bayern de Munique) e Edin Dzeko (Bósnia/Manchester City).

A minha escalação predileta seria o 4-2-3-1, utilizando dois ponteiros abertos, e com os seguintes titulares: Handanovic, Srna, Vidic, Subotic (Ivanovic) e Kolarov; Ilicic, Pjanic (Rakitic), Jovetic, Modric e Vucinic; Mandzukic (Dzeko). Outra alternativa seria o 4-4-2, com um losango no meio-campo para cadenciar mais o jogo: Handanovic, Srna, Vidic, Subotic e Kolarov; Ilicic, Pjanic, Rakitic e Modric; Jovetic e Mandzukic (Dzeko). Graças à ótima campanha da quase classificada Montenegro, o treinador da equipe seria o ex-jogador montenegrino, Branko Brnovic.

Dos 23 jogadores "convocados", Croácia, Sérvia e Bósnia cederiam cinco jogadores cada. Montenegro e Eslovênia cederiam três e a Macedônia cederia apenas dois jogadores. Das seis seleções, apenas duas estão praticamente garantidas no Mundial tupiniquim: Bósnia e Montenegro. A Croácia possui ótimas chances de se classificar, mas depende da sua disputa particular contra a Bélgica para saber qual seleção será a líder do Grupo A, assegurando a vaga direta, e quem terá de jogar a repescagem por ter ficado com o segundo lugar do grupo. Sérvia, Eslovênia e Macedônia já estão eliminadas.

A conclusão que pode-se tirar disso tudo é que a guerra e o ódio étnico conseguiram estragar o futebol mais uma vez. Se no passado a Iugoslávia, que ainda engatinhava, era temida, imagina como seria hoje, quando a maioria de seus craques atuam nos grandes palcos do futebol europeu? Uma pena que essa grande seleção só vai ficar na imaginação.

{ 2 comentáriosComentário }

  1. Sensacional o texto, logo verei você na ESPN comentando ! Sucesso aí meu caro

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    1. Muito obrigado, Luiz! Espero que o meu blog continue agradando. Abraço!

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