Archive for março 2013

O hedonismo turco pelo time do palácio

Você já ouviu falar do Palácio de Gálata? Não?! Mas aposto que você conhece o Galatasaray, certo? Pois é, Galatasaray significa, ao pé da letra, Palácio de Gálata. Inclusive, o palácio já não existe mais, assim como o nome Gálata.
O time do bairro de Galatasaray (ou Gálata, quando os genoveses ainda eram maioria por lá), é muito conhecido pelos brasileiros e, claro, pelos europeus. Fundado em 1905, a equipe turca é o clube de maior expressão num país marcado pelo extremismo, pela honra e pela juventude. O Galatasaray, ou Cimbom para os torcedores, fora fundado por estudantes do Liceu de Galatasaray, que ficava em frente a uma praça que levava o nome da escola.
A origem do apelido Cimbom é desconhecida dos próprios torcedores do clube turco. Algumas hipóteses sobre a sua origem divagam por toda Istambul. Uma das mais curiosas remete-se a um jogador inglês chamado Jim, que em turco é Cim. Jim teria marcado os dois gols da vitória do Cimbom contra o Fenerbahce por 2x0, e após a partida o inglês fora entrevistado por um jornalista, que perguntou: "Jim, como foi?". Como o jogador não sabia falar turco, ele respondeu em inglês: "Você sabe, foi como... CIM... BOM... BOM...", em referência aos dois gols anotados. Desde então, o torcedores adoram a entrevista e adotaram a alcunha e passaram a gritar pelo clube no estádio como Cimbom. Um dos momentos mais sublimes do clube é exatamente quando a UltrAslan, o grupo Ultra do Galatasaray, puxa o coro de Cim bom bom.
Por ser um clube de origens nobres e por se situar na parte européia de Istambul, a cidade mais populosa da Turquia, o Galatasaray é uma equipe bastante odiada na terra do berço Otomano. Parte desse ódio é causado pelo currículo vitorioso do clube. O Galatasaray possui 18 campeonatos turcos, 12 Supertaças da Turquia, 10 Taças da Turquia, 1 Europa League e 1 Supertaça Européia.
O Cimbom  tem o Fenerbahce, time da parte asiática de Istambul, como o seu maior rival. Numa escala um pouco menor de rivalidade, vem o Besiktas, proveniente da parte central de Istambul.
Apesar de ter sido fundado por pessoas cultas de um liceu francês, o Galatasaray, assim como a maioria dos turcos, tem uma obsessão pela honra. Aliás, a honra possivelmente tornam os turcos os mais fanáticos por seus respectivos clubes. O resultado de toda essa honra são os famosos Ultras (é quase parecido com as torcidas organizadas daqui, porém, muito mais fanáticos).
O grupo de Ultras do Galatasaray, a UltrAslan, que tem um leão como símbolo, dita a moda dentro e fora do estádio. Os Ultras são tão populares e amados que a UltrAslan virou uma marca de roupa que rivaliza, na Turquia, com a Gucci, Armani e outras marcas famosas. Esses Ultras são temidos em toda Europa pelo seu fanatismo e admirados pela sua devoção.
A dedicação desses torcedores extrapola a racionalidade, criando um estado de hedonismo. O hedonismo é uma doutrina moral criada pelos gregos que prega o prazer acima de qualquer coisa.
A UltrAslan protagoniza coreografias mirabolantes em quase todos os jogos. No entanto, partidas de rivalidade, ou contra clubes estrangeiros (especialmente os ingleses), chamam mais a atenção pelo show protagonizado pelos fanáticos.
Uma dessas "peças" é o famoso Welcome To Hell (bem-vindo ao inferno), que consiste numa meticulosa sucessão de movimentos e alegorias distintas. Primeiramente as luzes do estádio se apagam, os torcedores acendem seus sinalizadores (ou piscas), e num truque de luzes, a figura de um capeta enorme surge no gramado. Nisso, escuta-se uma multidão extremamente barulhenta urrando e levantando um mosaico gigante da UltrAslan atrás de um dos gols. Na arquibancada do centro, um bandeirão enorme é estendido com alguma mensagem de apoio aos jogadores, que ao saírem do túnel do vestiário vão se deparar com o bandeirão. Depois desse espetáculo todo, a torcida fica em silêncio, empunham os seus cachecóis e antes da bola rolar eles entoam o temível Cim Bom Bom e giram os cachecóis sem parar.
Pra efeito de causa, os torcedores do Galatasaray detêm o recorde mundial de maior barulho num estádio esportivo. Em 2011, os torcedores do Gala bateram o recorde dos torcedores do Besiktas e chegaram aos impressionantes 131.76 decibéis.
Porém, existe uma mancha nessa linda história de amor desses torcedores. Antes do primeiro jogo das semi-finais da antiga Copa da UEFA, hoje chamada de Europa League, entre Galatasaray e Leeds United-ING, houve uma das maiores tragédias do futebol moderno. Uma série de eventos catastróficos, desde arremessos de cadeiras até a briga de civis locais com os ingleses, culminou na morte de dois torcedores do Leeds.
Os dois garotos que morreram não estavam envolvidos em nenhum desses incidentes, porém, eles foram pegos por um torcedor do Galatasaray que estava furioso com a falta de respeito do restante dos torcedores do Leeds. Não deu outra, num país que cultua o poder da faca, dois jovens foram mortos após vários golpes fatais de uma faca empunhada por um torcedor do Cimbom. Os turcos afirmam até hoje que esse episódio só aconteceu em decorrência de uma das maiores ofensas que pode fazer à um turco: mostrar a bunda e rasgar a bandeira turca.
Desde o fatídico episódio, o clube turco entrou em sua pior fase financeira. A situação chegou ao ponto do Galatasaray ter lançado uma nota de falência. Porém, os mesmos torcedores que causaram aquele episódio de violência, foram ao resgate do clube. Liderados pela UltrAslan, os torcedores do Galatasaray, com a ajuda de alguns mercadores e empresários torcedores do clube, juntaram uma quantia de dinheiro mais do que suficiente para dar ao clube e assim livrá-lo da temida falência.
Hoje, o Galatasaray vive uma situação completamente diferente do que a de dez anos atrás. Com uma economia forte, o Cimbom se modernizou e inaugurou em 2011 o Turk Telecom Arena, um estádio com capacidade para 53 mil torcedores. Além da bela arena, o Galatasaray dispõe de um belo esquadrão de futebol, que atualmente conta com Drogba, Sneijder, Muslera e Yilmaz.
Na semana passada, precisamente no duelo contra o Schalke 04, em Gelsenkirschen-ALE, pela partida de volta das oitavas-de-final da Champions League, o Galatasaray venceu os alemães por 3x2 e conquistou a vaga para às quartas-de-final, onde enfrentará o Real Madrid. Porém, além da bela partida do clube turco, o que chamou a atenção foi a legião de torcedores turcos que invadiram a Alemanha.
Tudo bem, é fato que os turcos na Alemanha são como os mexicanos nos Estados Unidos, mas além do vigoroso número de torcedores do Cimbom na Veltins Arena, houve um fato curioso digno desse hedonismo dos fãs do Galatasaray.
Segundo Horst Heldt, diretor esportivo do Schalke, torcedores sem ingresso do Galatasaray tentaram cavar um túnel com as próprias MÃOS, literalmente, para tentar entrar na surdina e acompanhar o seu amado clube.
Após a partida, os fãs que viram de perto essa classificação do clube turco rumaram para o aeroporto de Gelsenkirschen e ascenderam sinalizadores para demonstrar todo o seu orgulho no embarque dos jogadores. No desembarque em Istambul, milhares de outros torcedores do Galatasaray já esperavam os herois no aeroporto para saudá-los com seus cantos de guerra mais famosos.
Se você pensa que o amor dos torcedores do Galatasaray se resume apenas às partidas de futebol da equipe, você se enganou terrivelmente. Não importa o esporte, a UltrAslan sempre vai levar uma legião pro ginásio, estádio ou piscina (!).
Se o amor pelo clube já é algo lindo, ser hedonista por ele chega a dar inveja. Os torcedores do time do Palácio de Gálata realmente vivem essa doutrina.



Torcedores do Galatasaray fazendo um mosaico em 3D, na partida contra o Fenerbahce, na Turk Telecom Arena, em 22.04.2012.



Vídeo que demonstra as façanhas dessa torcida maravilhosa do Galatasaray. Inclusive o dia da quebra do record de decibéis.



Por último, um vídeo que mostra o "Welcome to Hell", realizado pelos fanáticos da UltrAslan.

Gareth Bale: o substituto de Ryan Giggs

O ano era 2007, mais precisamente no dia 25 de maio, quando Sir Alex Ferguson sentenciou: "O Tottenham fez um dos negócios mais rentáveis da história". O lendário manager do Manchester United estava falando sobre Gareth Bale, jovem promessa do Southampton, que era motivo de disputa entre o time de Ferguson e o Tottenham, que acabou o contratando por 10 milhões de libras.

Bale, natural de Cardiff, é mais um daqueles grandes jogadores que jamais jogarão uma Copa do Mundo. Mesmo não achando que uma Copa do Mundo seja um parâmetro pra julgar a habilidade e a importância de um jogador, seria mais do que justo vê-lo entre os "melhores".

O caso de Bale nos remete ao do seu conterrâneo, Ryan Giggs, que é um dos maiores jogadores de todos os tempos e nunca foi à uma Copa do Mundo. Injusto, porém, essa lacuna não diminui a lenda que é Ryan Giggs. A coincidência com Giggs não pára apenas na nacionalidade. Bale também joga pelo lado esquerdo do gramado, além de ser rápido, driblador, técnico e canhoto, assim como Ryan Giggs foi na maior parte de sua vida.

Outro jogador que Bale vem sendo constantemente comparado é Cristiano Ronaldo. Existem muitas similaridades entre os dois jogadores, como a força e a capacidade de driblar em alta velocidade, porém, não adianta. Bale é a cara do Giggs em seu ápice. Porém, esse burburinho veio à tona pelos números do jogador. Bale tem a impressionante média de 0.67 gols/jogo, sendo a 3ª melhor média da Premier League (atrás de Luiz Suárez e Robin Van Persie que têm 0.78 e 0.68, respectivamente), e com 24 partidas disputadas, número menor do que as partidas disputadas por Luiz Suárez (27) e Van Persie (28).

Além desse número assombroso, Bale tem 16 gols na tabela de artilheiros, cinco a menos que Luiz Suárez, o artilheiro, e três a menos que Van Persie, o vice-artilheiro. Na Europa League, o desempenho de Gareth diminui um pouco: 2 gols apenas.

Pela seleção de Gales, nas Eliminatórias da Copa do Mundo (UEFA) 2014, Bale é o artilheiro do time com três gols, e é o sétimo na tabela de artilharia. Considerando que o Grupo A, onde se encontra o País de Gales, seja um grupo bem equilibrado, além da fragilidade da seleção galesa, esse número do ponta galês desperta uma atenção maior.

Entretanto, apesar dos números mostrarem o poderio ofensivo de Gareth Bale, a história do camisa 11 dos Spurs começou bem diferente do que a dos seus concorrentes pela artilharia (e também pelo prêmio de melhor jogador da liga).

Bale começou como lateral-esquerdo, no Southampton, em 2006 e com apenas 16 anos de idade. O galês é o segundo jogador mais novo à estrear com a camisa dos Saints, atrás de Theo Walcott, alguns dias mais novo, e que atualmente defende o rival Arsenal. Bale sempre fora muito técnico pra jogar na lateral, um dos motivos pela tardia ascensão entre os goleadores, pois na Inglaterra os laterais são obrigados a marcar antes de fazer qualquer outra coisa em campo.

Mesmo com esse empecilho da lateral, era notório dentro do Southampton o valor de Bale. No entanto, vale ressaltar a clareza dos scouts do Tottenham nesse caso, pois o risco era muito grande ao contratar um jogador que atuava numa posição que não lhe condizia. O Southampton, que no inicio endureceu a venda do craque, teve que ceder após a tentadora oferta do clube londrino. Os Saints estavam na Championship (segunda divisão) e estavam correndo risco de falência.

Bale chegou com pompas em White Hart Lane, após várias declarações de Sir Alex Ferguson, que tentou em vão a sua contratação, e pelas cifras nele depositadas. O início foi um pouco tímido, tanto é que Bale chegou a atuar como lateral-esquerdo por três temporadas no clube, além de revezar a vaga de titular com o Gilberto, ex-Cruzeiro e Grêmio. Bale, de fato, só foi conquistar a vaga de titular absoluto na ala esquerda quando Harry Redknapp assumiu o comando do Tottenham, no final de 2008.

Redknapp, após presenciar tantas subidas desenfreadas do seu ala esquerdo, resolveu adiantá-lo uma posição a frente no esquema tático, quando passou a jogar de meia-esquerda. Foi no 4-4-2, com a velha linha de quatro inglesa no meio-campo, que Gareth Bale virou um astro em Londres.

Não durou mais do que uma temporada para que Bale se acostumasse com a responsabilidade de "marcar menos". Jogando com mais liberdade, o galês começava a desfilar todo o seu repertório com dribles rápidos e verdadeiros canhões de perna esquerda. A redenção veio em 2009/2010, após grande campanha na Premier League que credenciou os Spurs com uma vaga na Champions League de 2010/2011.

Após passar facilmente pela primeira fase, o Tottenham chegou a fase de grupos da UCL como possível candidato ao segundo posto num grupo que tinha a Inter de Milão, que era comandada por Rafael Benitez. Aliás, foram os jogos contra a Inter de Milão que consagraram a ascendência de Bale, que deixou os londrinos em primeiro lugar no grupo.

No primeiro jogo contra os italianos, o Tottenham perdeu por 4x3 numa partida que ficou marcada por uma quase reação histórica. A Inter tinha terminado o primeiro tempo vencendo a partida por 4x0 após inúmeras confusões e um pênalti "esquisito" logo aos 13 minutos do começo da partida. Na volta do intervalo, os Spurs imprimiram uma velocidade descomunal ao jogo e anotaram três gols, e esses três tentos foram anotados por Bale.

Na segunda partida, em White Hart Lane, o jogo ficou conhecido pelo vareio de Bale encima de Maicon, na época titular também da seleção. Os Spurs venceram por 3x1, mas inversamente proporcional a partida no Giuseppe Meazza. Dessa vez Bale não marcou três vezes, ele deu as três assistências dos gols marcados por Van der Vaart, Peter Crouch e Roman Pavlyuchenko. No final da partida, em uníssono, os fãs do clube londrino gritavam a plenos pulmões: "Taxi for Maicon!".

Desde então o sucesso de Bale foi só aumentando até chegar nos dias de hoje, onde o galês já é uma realidade. Um craque. Também vale ressaltar a importância do atual treinador dos Spurs, André Villas-Boas, que deu mais liberdade ao craque.

Atualmente o Tottenham joga no 4-2-3-1, com Bale bem aberto pela esquerda e com muita liberdade para atacar. Dependendo da situação, Villas-Boas adianta Bale para o ataque, onde Bale atua como um digno ponta-esquerda. É nesse esquema que o camisa 11 do Tottenham vem pegando fogo.

Porém, quem está "sofrendo" com esse sucesso todo é o torcedor do Tottenham. Desde a UCL de três temporadas atrás que o nome de Bale é especulado em clubes como Barcelona, Real Madrid e recentemente o PSG.

Daniel Levy, dono do clube inglês, disse nessa semana que vai fazer uma oferta inimaginável ao galês. Segundo os jornais ingleses, o Tottenham estaria disposto a dobrar o salário do jogador que recebe 75 mil libras semanais (R$ 225 mil) para 130 mil libras semanais (R$ 390 mil). Independente do futuro do craque galês, é muito bom vê-lo jogar. A facilidade de driblar, correr com a bola, puxar contra-ataques, chutar ferozmente e, sobretudo, marcar gols, me faz acreditar que Gareth Bale é o melhor jogador da Premier League 2012/2013.

Por jogar num clube que é ofensivo por natureza e por contar com um treinador inteligentíssimo, considero que não é o momento certo para o Bale sair do Tottenham Hotspur. Uma transferência para o Barcelona ou Real Madrid é quase inevitável, assim como é inevitável dizer que Gareth Bale, com 23 anos, já substitui Ryan Giggs, a lenda, de maneira sublime.

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