Postado Por : TramaFC 27.6.14

Ao contrário do que muitos imaginavam, a Copa do Mundo no Brasil está servindo para abrir os olhos dos brasileiros para fatos que se consumavam enquanto a população teimava em ignorar.

Um desses fatos que chamou atenção foi a compra de ingressos para os jogos da Copa. Um país, cuja existência perturba metade da população brasileira, foi responsável por comprar mais de 185 mil ingressos para a Copa, sendo que ao todo mais de 90 mil torcedores desembarcaram em terras brasilis para acompanhar sua seleção. Não, não é a Argentina.

Os Estados Unidos ignoraram o futebol por tanto tempo que outros países mais habituados à bola redonda começaram a desdenhar da capacidade americana de gostar do esporte-rei. Como o futebol é o esporte mais praticado e famoso no mundo, era questão de tempo que a febre chegasse na terra da bola oval. E ela chegou.

No final da década de 1970, Pelé deu o primeiro passo para que a bola redonda quicasse nos gramados americanos quando trocou o Santos pelo New York Cosmos com a pretensão de que, juntamente com Beckenbauer e Chinaglia (e posteriormente Carlos Alberto Torres), pudesse promover o esporte no país. A aventura durou pouco e não fora bem aceita pelos americanos, que relutavam fortemente contra o esporte que era taxado de "anti-patriota". Naquela época, por mais estrelas que os americanos importassem de outros clubes, pouco adiantaria já que a relutância era tremenda contra algo marcado na cultura de outros países. Vale dizer anteriormente os norte-americanos eram muito mais patriotas do que agora (muito se atribuiu à ignorância e falta de estudo, especialmente em regiões cuja escolaridade não era boa).

Entretanto, alguns entusiastas do futebol não desistiram da terra do Tio Sam para o futebol. A Copa de 1994 é o grande exemplo de como uma cultura pode ser alterada quando o patriotismo é revertido. Como a Copa era na casa deles, os americanos se sentiram na obrigação de fazer um bom papel, ou ao menos torcer pela seleção deles. Como o futebol estava apenas engatinhando por lá, seleções como Alemanha e Brasil caíram no gosto dos ianques. E esse foi o estopim para que uma nova cultura fosse implantada nos EUA, mesmo que bem timidamente.

Disputando Copas do Mundo ininterruptamente desde 1990, na Itália, os Estados Unidos foram evoluindo no futebol graças a importação de treinadores brasileiros, holandeses, alemães e italianos para as categorias de base. Como muitos dos "antigos" americanos já estavam velhos demais para reclamar em 1994, uma nova geração de torcedores foi crescendo por lá e, paralelamente, outro fenômeno foi se intensificando no cenário americano.

As grandes ligas americanas (MLB, NBA e NFL) passaram por uma revolução brutal desde suas criações até o final da década de 1990. O beisebol, que um dia já foi chamado de "o passatempo favorito dos americanos", caiu em desgraça depois de tantas denúncias de dopping, manipulação de resultados e descalabro com o dinheiro (o abismo financeiro entre New York Yankees com o restante das equipes era bizarro, não tinha graça), fazendo com que muitos jovens perdessem o gosto pelo jogo. A NBA também sofreu com a diminuição de popularidade por causa do dopping e do predomínio de Los Angeles Lakers e Boston Celtics nas finais (quando não era um o campeão era o outro). Sobrou apenas para a NFL, que deixou de ser o terceiro para ser o primeiro graças à uma visão financeira e esportiva de igualdade (as posições no draft, teto salarial e controle excessivo no anti-dopping). Uma invenção americana, a franquia, também contribuiu para o insucesso da MLB e NBA em relação à NFL, que é muito mais rigorosa com isso. Hoje, o passatempo do americano é o futebol americano.

Como a globalização é massiva, e aquele projeto que se iniciou em 1994, os jovens americanos começaram a praticar mais o futebol da bola redonda em escolinhas de futebol. O crescimento ainda é desigual por lá, porém, existem cidades onde a interação é muito mais intensa, como Seattle por exemplo. Eles perderam o seu maior orgulho no começo dessa década, o Seattle SuperSonics (time de basquete), para Oklahoma (virou o Thunder) por motivos políticos da NBA, justamente na época em que o "soccer" estava ficando em evidência nos EUA. Hoje, existe um ódio supremo por lá com a NBA e todos os fãs do basquete dessa cidade se voltaram para as outras duas equipes da cidade, o Seattle Seahawks (time de futebol americano, atual campeão do Super Bowl) e Seattle Sounders (tricampeão da Taça dos Estados Unidos - 2009, 2010 e 2011), que jogam no estádio mais barulhento do mundo (o pessoal de Seattle ultrapassou a barreira do som TRÊS VEZES em 2013, sendo duas vezes com o Seahawks e uma com o Sounders). Ainda impera entre os americanos o desejo de torcer por aquilo que vale a pena, pois como é dá natureza deles de só torcer para aquilo que tem chance de vencer, mas também é da cultura do americano gostar de esportes, de serem extremamente competitivos e orgulhosos. Quando eles perceberam que havia algo de bom acontecendo no futebol deles, o apoio começou a aumentar e aumentar sem parar. Atualmente, a MLS (Major League of Soccer - liga americana) tem uma média de público bastante superior a do Brasileirão.

Pesquisas revelaram que o "soccer" já está empatado com o beisebol e já ultrapassou o hóquei na preferência dos americanos. Entre os jovens, o "soccer" já é superior ao beisebol, sendo que a venda de camisas oficiais nos EUA é superior as que são vendidas no Brasil e Argentina juntas. O jogo entre Estados Unidos e Portugal, no domingo passado, bateu o recorde de audiência no ano da TV americana, superando até a média das finais da NBA entre Miami Heat e San Antonio Spurs. Mais de 24 MILHÕES de televisores ligados na partida que terminou empatada por 2x2 e mais de 500 MIL STREAMINGS na internet foram rastreados de cidades americanas. Em 2010, mais americanos assistiram a final entre Espanha e Holanda (24.3 milhões) do que a final da MLB entre Texas Rangers e San Francisco Giants (15 milhões), lembrando que naquela Copa os EUA foram eliminados por Gana nas oitavas-de-final.

Aliados à um bom futebol mostrado pelos americanos, com bastante toque de bola e compreensão tática, a presença maciça de americanos no Brasil para ver essa boa seleção de Klinsmann pode ser explicada pela preferência da juventude americana (que está de férias) por um esporte mais emocionante e imprevisível (e mais justo em relação beisebol e ao basquete). Times como Lakers, Celtics, Raiders, Yankees e Trailblazers foram perdendo espaço para Los Angeles Galaxy, Seattle Sounders, Sporting KC, Portland Timbers e Real Salt Lake, que desenvolveram um bom futebol e um belíssimo apoio das arquibancadas. Torcedores fanáticos dos Sounders e Timbers levaram os americanos a criar os AMERICANS OUTLAWS (Americanos Fora-da-lei) para apoiar a seleção, com gritos de guerra e mosaicos.

Em alguns lugares dos EUA a atmosfera durante um jogo da seleção pode ser facilmente confundida com a dos tempos do Dream Team de Michael Jordan e cia durante o auge do basquete, ou até com uma final de conferência no futebol americano. No entanto, parques, bares, escolas, ginásios e centros comunitários armam telões, fecham ruas e até as decoram para assistir os ianques desbravando uma terra que eles admiram muito (no futebol). Parece com a gente, não? Durante a semana, antes da partida contra a Alemanha, foi veiculada uma notícia de que os americanos pediram ao Obama que declarasse feriado nacional para que todos pudessem acompanhar a partida, já que o fuso horário para algumas cidades americanas chegaria a 4 ou 5 horas de diferença para o horário oficial do jogo, que foi às 13:00. Apesar do Obama ser fã declarado do esporte, o presidente resolveu não declarar feriado nacional, o que não impediu que muitos americanos parassem o que estavam fazendo para assistir o duelo que classificou a seleção novamente para a segunda fase da competição mais importante entre confederações do mundo.

Poucos países que possuem uma liga profissional de futebol evoluíram tanto e transformaram uma nação como o futebol fez nos Estados Unidos durante as últimas duas décadas. É claro que, apesar da nítida evolução, existam pessoas nos EUA que não veem com bons olhos um esporte que pode terminar sem gols ou, pior, num empate. Na visão do americano provinciano que ainda não "comprou" o esporte, esses são os motivos para o "soccer" não derrubar de vez outros esportes, cuja probabilidade de terminar sem uma pontuação, ou num empate, é quase zero. Parece bobo para nós, habituados a torcer por um 0x0 salvador, acreditar que isso seja uma justificativa de uma pessoa patriota.

Entretanto, os americanos adotaram o futebol como um esporte digno de se torcer. Vai ser comum à partir de agora vermos americanos chorando com um empate (se for sem gols, pior ainda), é assim jeito deles. É claro que muitos torcem pela vitória, mas, apesar de ser alvo de críticas, o patriotismo faz com que muitos expectadores da seleção norte-americana torçam para Dempsey e cia sem ao menos serem fãs de verdade do esporte, pois trata-se do país deles que está lá jogando numa terra completamente diferente da qual eles amam muito. E muitos desses críticos, sem perceberem, acabam pegando gosto pela bola redonda, tornando-se fãs do melhor jogo do mundo. Muitas celebridades americanas contribuem para que americanos normais comecem a gostar de futebol (veja no link dois parágrafos acima), fato como as visitas de Leonardo di Caprio e Kobe Bryant ao Brasil durante o torneio ajudam a promover o esporte por lá, até o apoio de outros que estão nos EUA como Bruce Springsteen (que até cornetou o Luís Suárez pela mordida), LeBron James, Josh Duhamel, Brad Pitt e Jimmy Fallon endossam esse novo ideal.


Se você não quer acreditar (ou gostar), prepare-se, pois os ianques estão chegando (no futebol).



Mais de 20 mil americanos foram ao Grant Park, em Chicago, para assistir EUA x Alemanha.

































Muitos parques foram tomados por torcedores em Washington.


























O mesmo apoio acontecem na Filadélfia, uma das cidades mais patriotas dos EUA.























Até o basquete parou para ver os EUA jogando contra a Alemanha. Essa foto é do Barclays Center, NY, onde aconteceu o draft da NBA na quinta-feira.


Não podia faltar ele, né? Segundo o Obama, "essa foi a maior partida que nós já jogamos".


















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