Archive for março 2014

15 torcidas que você deveria conhecer - parte 1

Muito se fala se fala sobre a Muralha Amarela, do Borussia Dortmund, que é a maior geral da Europa. A festa produzida pelos excelentes e fanáticos torcedores do Dortmund são de causar inveja em todos nós, meros torcedores de futebol. O trono de melhor torcida geralmente é dado aos apoiadores, e com razão, do time amarelo.

Entretanto, aquela velha disputa onde também é incluída a "The Kop", do Liverpool, a Gate 7 e o seu famoso "Horto Magiko", do Panathinaikos, a Gate 13, do Olympiakos, os torcedores bêbados de Munique e, claro, sem esquecer das clássicas torcidas que ficaram famosas em filmes como o "Green Street Hooligans", caso dos torcedores do West Ham e Milwall.

Os grandes clubes de massa na Itália também são constantemente lembrados, vide a Juventus e a sua "grande storia de amore", entoada pelos Drughi. Os tifosi da Roma, Lazio e Milan sempre acabam entrando em listas e mais listas.

A dupla Galatasaray e Fenerbahce também encanta os olhos de quem gosta de ver mosaicos, pula-pula e fogos de artifício. Porém, lá mesmo na Turquia reside um outro time que é pouco lembrado mas que não deve em nada para os outros dois mais conhecidos. 

E quando o assunto é barra brava? O papo sempre fica direcionado à La 12, do Boca Juniors, ou aos Borrachos del Tablón, do River.

Porém, existe um mundo por trás desses torcedores já famosos. Há uma incontável quantidade de torcedores tão, ou mais, incríveis que esses aí lembrados acima. Entretanto, alguns deles habitam em ligas obscuras e, às vezes, são tão grandes que acabam sendo subestimados pelo fato de não "espalhar" essa cultura por aí.

Por isso, segue abaixo uma lista com 15 torcidas que você deveria conhecer urgentemente para não ficar viciado no mesmo repertório de sempre. Aproveito para lembrar que isso é uma lista randômica, que não tem o intuito de eleger a melhor, é apenas uma lista facultativa que contém vários torcedores que não recebem o devido respeito. Divirta-se!


1. Torcida (Hajduk Split - Croácia)

Apesar dos brasileiros não serem os mais fanáticos do mundo, tudo o que envolve o nosso futebol acaba se tornando num espelho para várias outras ligas e torcedores no mundo. O grande exemplo era a antiga Iugoslávia, cujo templo do futebol era o Estádio Nacional de Belgrado, que era conhecido como o "Maracanã Europeu". Outra referência ao futebol brasileiro são os Ultras do Hajduk Split, que batizaram o principal grupo de torcedores como TORCIDA.

Entretanto, apesar da clara evidência de admiração ao futebol brasileiro, os torcedores do Hajduk Split são completamente diferentes do que estamos acostumados por aqui. Primeiramente, a Torcida é um grupo de Ultras, que é bem diferente das torcidas organizadas brasileiras. O que é um Ultra? Ultra é um bando de torcedores que se juntam para apoiar a equipe a todo custo. Cuidado para não misturar a definição de Ultras com torcida organizada. Apesar de usarem camisas e apetrechos que fazem alusão ao nome da torcida, igual acontece no Brasil, as Ultras tem dois pontos bastante distintos das organizadas. O primeiro é que os Ultras não aceitam pessoas que não são engajadas politicamente, pois você não está apenas torcendo para o seu time, e sim para uma cultura. E em segundo lugar, os Ultras não COPIAM músicas de outras equipes, e muito menos fazem pausas nos cânticos. É tudo 100% durante o jogo, sem pausa, e se reclamar o torcedor realmente apanha do "chefe".

O que faz da Torcida ser tão especial assim? Por ser mais "sul-americana", os croatas de Split, região litorânea do país da região dos Bálcãs, tendem a ser mais exibidos que as outras torcidas do Leste Europeu. Famosos pela pirotecnia, os integrantes da Torcida colocam fogo em qualquer estádio no mundo. Além dos piscas e sinalizadores, os torcedores da Torcida abusam dos rojões, que são atirados no chão, para fazer barulho de canhão (algo extremamente comum entre os Ultras). Sem parar de cantar, os fãs do segundo maior time vencedor da Croácia exaltam a cultura litorânea e o prazer de não ser gelado, apesar de serem extremamente hostis.

O timing e a disposição da Torcida são tidos como referência em toda a Europa. Mesmo se assemelhando em alguns aspectos com os torcedores brasileiros (músicas, por exemplo), tudo o que é produzido pelos ultras é registrado. Todavia, esse protecionismo com o jeito de torcer entra em colapso quando o assunto é cultura pop. Dizem que os ultras foram criados pelos croatas, e que a Torcida é a mais velha desse ramo, mas, nem por isso eles deixam de se atualizar. Em alguns jogos a Torcida leva consigo algumas bandeiras com referências de filmes famosos como "Cães de Aluguel (Reservoir Dogs)", Pulp Fiction e etc.





2. F-Side/VAK410 (Ajax - Holanda)

Ajax, um clube quatro vezes campeão da Champions League, mais de 30 vezes campeão holandês e clube revelador de Johan Cruyff, Johan Neeskens, Dennis Bergkamp e Van Der Saar, é o motivo de toda a exaltação da F-Side, grupo de torcedores do maior clube holandês de todos os tempos.

Batizados em homenagem ao setor proveniente dos torcedores do Ajax no antigo estádio De Meer, na Vak F, a F-Side é, desde 1976, o maior grupo de protetores do "Ajax way of life". Originalmente fundado como torcedores casuais (os casuals, movimento criado na Inglaterra durante a década de 1960), a F-Side mudou um pouco o seu jeito de ser. Por ser muito conectada ao clube, a F-Side é admirada até por jogadores, que muitas vezes são holandeses oriundos da base.

Sempre baderneiros, a F-Side jurou "lutar" pelo clube ao pé da letra. A sua fama por armar confusões com qualquer torcida que viesse ao De Meer acabou custando o ódio de todos os torcedores de outras equipes na Holanda, especialmente dos organizados de Rotterdam, mais precisamente do Feyenoord. Em 1997, a gota d'água do futebol holandês fora derramada pela última vez. Após um encontro premeditado num bar entre torcedores do Ajax e do Feyenoord, Carlo Picornie, chefe da F-Side, fora esfaqueado até a morte por torcedores do Feyenoord. Esse incidente fez com que muitas leis fossem impostas na Holanda com o intuito de diminuir as mortes devido aos encontros brutais. Até hoje, o assento de Picornie é preservado no setor da F-Side, agora no Amsterdam Arena. O que já era ódio, virou algo maior para os torcedores ajaxianos, que não só declararam um jihad, mas também apelidaram todos os torcedores do Feyenoord de "baratas" pela emboscada e morte do chefão da F-Side.

Considerando esse aspecto, a F-Side criou o slogan "Ze Ons Niet Willen. We geven Niet" (Eles Não Gostam de Nós. Nós Não ligamos), e começou a abraçar todo tipo de coisa que fosse considerado de raiz do clube. O Judaísmo, por exemplo, é considerado uma marca do clube, apesar de poucos serem realmente judeus. A Estrela de Davi, a bandeira de Israel e muitos outros símbolos característicos dessa religião foram para os trapos e faixas dos Ultras. Sabendo que iriam lutar contra tudo e contra todos, a F-Side se fechou para se fortalecer. Além da união, outra característica marcante desses torcedores é o barulho massacrante que fazem em qualquer jogo do Ajax, seja em casa ou fora. Fogos de artifício, sinalizadores, bombas caseiras e até megafones são instrumentos que a torcida leva ao estádio para abrilhantar o espetáculo. Outra coisa que precisa ser dito sobre o funcionamento da F-Side é que eles controlam todas as ações da Arena. Um grupo mais casual fica sem bandeiras, sinalizadores e etc atrás do gol. Em vídeos é perceptível que mesmo em outra tribuna, onde há mais alegorias, os fãs recebendo ordens do "chefe" de pé lá atrás do gol. Como dito antes, a F-Side tem uma influência enorme em todos os torcedores do Ajax, onde até jogadores da base são filiados aos Ultras. Uma dessas influências está afetando até no estatuto do clube, onde os torcedores integrantes da F-Side puxam o coro para que o Ajax traga de volta o antigo escudo da equipe.

A F-Side e a VAK410, apesar de andarem perto uma da outra, não são a mesma coisa. Existe uma cultura muito peculiar na Europa de "divisão por idade" nas arquibancadas quando um grupo já não é tão proeminente quanto deveria de ser. Muitos torcedores pertencentes à F-Side, hoje, já estão "velhos demais" para pular o tempo todo e organizar movimentos correlacionados ao Ajax. Como a divisão de idade pode gerar muitos atritos, algumas fan-bases acabam cedendo o seu espaço para criar alianças com os mais novos. Como a F-Side é mais centrada na política e nos bastidores do clube, a parte de coreografia, sinalizadores e algazarra fica para os mais novos, caso da VAK410. Aliás, existe uma peculiaridade muito interessante, o respeito pelos mais velhos é tanto que algumas das músicas e "corteos" (tipo de aquecimento) só vão para o estádio se a F-Side aprovar.


Esse é o escudo que era usado pelo Ajax de 1928 até meados da década de 1990. Desde então pouca gente aprovou o atual.





3. La Guardia Imperial (Racing - Argentina)

Não é o clube de maior torcida da Argentina. Não é o clube com mais títulos. Não é o clube mais antigo do país e muito menos é da famigerada capital portenha. O Racing é uma grande equipe sim, porém, não é algo como Boca Juniors ou River Plate, que polarizam tudo o que se diz respeito ao futebol praticado na Argentina. La Academia, como é conhecido o clube, ficou muito famosa durante a década amadora do futebol argentino e até meados da década de 1960 quando o clube ainda era protagonista. Situado em Avellaneda, onde que quem tem mais títulos é o "Rey de Copas" Independiente, o Racing vive uma seca de títulos absurda, sendo que o último título fora em 2002. Sobre o último título fora do país conquistado pela Acade? Bom, foi uma Supercopa da Libertadores, em 1988. Quantos títulos tem o clube? Minguados 10 troféus.

Mas o que não impede o Racing de ser grande? Bom, o time é tradicionalíssimo. Como dito antes, o Racing não ganhou o apelido de "Academia" a toa. O grande fator que ainda mantém o Racing grande é a paixão que os racinguistas têm pelo time mais azarado da Argentina. A seca de títulos (ou a falta deles) e a suntuosa sala de troféus do Independiente se tornaram em combustíveis para que La Guardia Imperial se tornasse na maior veia pulsante da América do Sul. A famosa La 12 do Boca Juniors é fantástica? Sim, mas é sempre muito fácil torcer para um time da capital que possui realidades econômicas muito superiores a de um time do "interior".

Entretanto, o que faz da La Guardia Imperial ser a mais impressionante "hinchada" sul-americana? Todos os torcedores que ficam atrás do gol com a hinchada não estão muito preocupados com a partida, pois sabem que a situação do clube, há tempos, não é de se iludir. Eles vão ao estádio para apoiar porque sabem que sem eles o Racing não seria nada. Se o clube não pode ganhar dentro de campo, que ganhe fora dele, na arquibancada. A média de público de um time que, quase sempre, luta para não cair é superior a de todos os clubes brasileiros da primeira divisão. E quem cobra a presença dos torcedores comuns no estádio nem é a diretoria, é a La Guardia. Quer arranjar um lugar atrás do gol para ver o espetáculo proporcionado pelos fãs? É bom você ficar de pé e pulando, senão a chance de você ser expulso à pontapés é grande. Ninguém, simplesmente ninguém, é permitido ficar sentado naquela região do estádio, "tienes que pular".

Outra coisa. Todos, simplesmente todos, os cânticos do Racing são de autoria própria da La Guardia Imperial. Eles se recusam a copiar os cantos vindos de outros estádios, mesmo tendo aquela velha máxima que impera no mundo todo - especialmente aqui - de que ninguém é dono da música. Houve um tempo em que integrantes mais exaltados da barra brava cobraram dos "chefes" que registrassem em cartório suas lindas canções para que ninguém os copiassem.

Os recebimentos, ah os recebimentos. Existe exaltação maior para um jogador de futebol do que jogar uma partida comum, sem nenhuma taça à disposição, como se fosse um final? Pois é o que fazem os torcedores do Racing, com a sua chuva de papel-higiênico e guarda-chuvas azuis e brancos. Muitas bandeiras e fumaças com as cores do clube, iguais à bandeira argentina, tremulam até o apito inicial. Sim, todo jogo é assim.

Mas, se você gosta de letras e cantos, preste bastante atenção nos vídeos abaixo e morra de inveja da criatividade dos hinchas. Os nomes de cada canto são excepcionais.







4. Super 3 (Aris - Grécia)

Uma liga marcada por apenas dois clubes conhecidos, e mesmo assim sem muita força no cenário europeu, pode ser considerada a mais fanática do planeta? Pode, e muito. A liga grega de futebol abriga, essencialmente, Panathinaikos e Olympiakos como grandes equipes, com uma torcida extremamente fanática que deixa qualquer outra torcida com muita inveja. Todo mundo já ouviu falar do "Horto Magiko", tema dos fãs do Panathinaikos alguma vez na vida, mas, existe um grupo de torcedores mais fanático do que eles.

A Grécia sempre viveu na balança econômica, alternando entre bons e maus momentos. Por ser um país paradisíaco e com muitos milionários, uma hora essa realidade poderia descambar. Foi o que aconteceu há 5 anos, precisamente. Num país onde a faixa etária é baixa devido a grande quantidade de jovens, algo se espera deles no esporte mais apaixonante de todos. Estádios em chamas e cânticos entoados à plenos pulmões. Essa é a realidade em quase todos os campos de futebol da liga grega. Apesar da dificuldade econômica, os gregos continuam indo aos estádios para apoiar suas razões de viver. Muitos ainda estão desempregados e desiludidos, então resta-os torcer freneticamente para escapar um pouco dessa realidade.

A Super 3, grupo de torcedores do Aris Thessaloniki, é um grande exemplo dessa devoção. Fugindo um pouco da realidade das grandes massas, os fãs desse time modesto são capazes de performances inacreditáveis em quaisquer circunstâncias. E esse tipo de amor serviu de inspiração para clube "endinheirados" por aí, como o Manchester City e o PSG, por exemplo. A Super 3 é uma combinação de barra brava com as já citadas ultras do leste europeu. O resultado dessa simbiose é um estádio acanhado e entupido de malucos gritando tão alto quanto um acidente aéreo. Bandeiras e muito sinalizadores são grandes apetrechos desses caras para um grande show pirotécnico. O ritmo que embala os torcedores é composto por tambores, buzinas e MURGAS argentinas, uma mistura de bumbo com prato.

O fanatismo da Super 3 vai além dos jogos contra a dupla Panathinaikos-Olympiakos, ou nos clássicos contra o PAOK. O espetáculo acontece em qualquer jogo, e até em amistoso (no vídeo abaixo contra o Boca Juniors você poderá ter uma ideia mais concreta do que eu estou falando). Além do futebol, a torcida do Aris também dá um show em jogos de basquete, num ginásio abarrotado de homens gritando como espartanos. É algo de outro mundo. Outra coisa muito interessante da Super 3 são as músicas: Beatles, Rolling Stones e The Clash têm as suas músicas alteradas para virarem hinos de apoio. No entanto, contesto geral dos torcedores do Aris, eles não se importam com a fama ou em se tornarem grandes. A vontade desses torcedores é apenas ir ao estádio e fazer uma festa.





5. Tornados (Rapid Wien - Áustria)

O Rapid Wien (ou Rapid Viena) é time que mais tem títulos nacionais na Áustria, lugar onde poucos sabem, mas o futebol é extremamente importante. Poucos sabem também que o Rapid já venceu o Campeonato Alemão, em 1940/41, antes da criação da Bundesliga. O clube austríaco também possui duas Copa da Alemanha, ambas conquistadas na década de 1940. No entanto, após a Segunda Grande Guerra Mundial, os clubes austríacos foram proibidos de disputar o campeonato alemão, sendo resignados a criar e jogar na fraquíssima liga austríaca. Dividindo as atenções com o Austria Wien (ou Áustria Viena) e Red Bull Salzburg, o Rapid é uma agremiação extremamente popular e de características ímpares comparada a dos outros dois rivais. Conhecidos por ser um time que apela muito para a força e preza pela raça, o Rapid criou uma áurea entre os seus fãs de que tudo pode ser conquistado se houver esses dois tipos de filosofia futebolística.

No entanto, existe um fenômeno criado pelos torcedores do Rapid chamado "Rapid Viertelstunde" que é copiado por todos os times de futebol ao redor do planeta, e que poucos sabem também que sua existência começou ali, na Áustria, com os fãs do Rapid. O que vem a ser isso? O "Rapid Viertelstunde" é ato de bater palmas freneticamente faltando 15 minutos para o final da partida. Porém, antes da sequência de palmas começar, os torcedores estendem suas mãos e giram as palmas até o momento propício. Ninguém fazia isso quando os torcedores do Rapid começaram com o movimento, lá por 1913. O Viertelstunde acontece exatamente aos 30 minutos do segundo tempo e vai até o final, independentemente se o placar estiver adverso.

Criada nessa cultura de apoio incondicional, os Tornados, ultras do Rapid Wien, cobram participação irrestrita de todo o estádio, que não são obrigados, mas cantam muito alto e participam das coreografias espetaculares inventadas pelos ultras. Os Tornados são extremamente famosos no Leste Europeu, e devidamente famosos em toda a Europa, por serem "mau encarados" e por ficarem sem camisa num frio absurdo. Mosaicos, rojões, pirotecnia e auto-falantes são usados em todos os jogos do clube. Portanto, os Tornados são uma boa mistura do novo com o velho jeito de torcer. Cânticos antigos e o Viertelstunde são alterados de uma forma muito interessante para deixar os jogadores mais pilhados e raçudos, do jeito que eles sempre gostaram que fosse.






6. Ultras/Nordkurv Gelsenkirchen (Schalke 04 - Alemanha)

Seja sincero, se o seu time estivesse a mais de 50 anos sem vencer um título nacional você continuaria torcendo para ele? E se os seus dois maiores rivais fossem conhecidos ao redor do planeta por ter uma torcida vibrante, enquanto a sua, que é igualmente vibrante, ficasse no ostracismo, você continuaria torcendo? Sejamos francos, essa realidade jamais se concretizaria no Brasil, um lugar onde pequenas secas de títulos já são responsáveis para que haja uma debandada enorme de torcedores.

Os Ultras Gelsenkirchen são um grupo de torcedores que, apesar de existirem faixas e um site oficial sobre a mesma, não é de fato uma "firma" ou uma "ultra" de verdade. É apenas um nome. Os torcedores do Schalke 04 são um caso a parte na Alemanha, pois, assim como os torcedores do seu maior rival, o Borussia Dortmund, eles não precisam participar ou ser de uma organizada para ter cânticos, bandeiras e pirotecnia. Eles fazem porque querem. No caso do Dortmund, a "Muralha Amarela", setor onde fica a maior geral da Europa, é o grande combustível do estádio. A Muralha Amarela não é um organizada, é um setor. No caso do Schalke, na tribuna norte da Veltins Arena, concentra-se um grupo maciço de torcedores, que com a ajuda dos Ultras Gelsenkirchen, realizam mosaicos, hasteiam bandeiras e gritam sem parar durante 90 minutos. O sincronismo dos cantos é assustador.

Além de serem subestimados e esquecidos, outros fatores chamam a atenção para os torcedores do Azul Real. Existe um pacto dentro do estádio do Schalke de que nunca o clube ficará desamparado em jogos fora, seja na Alemanha seja na Europa. Outra coisa bonita sobre esses torcedores é que eles cuidam muito bem uns dos outros. A família Azul Real nunca deixa um torcedor sozinho, por isso é comum você ver um verdadeiro exército de camisas azuis marchando em conjunto pelas praças e avenidas de outros lugares que não seja Gelsenkirchen. Esse aconchego também é transmitido aos jogadores, que amam jogar pelo clube porque os torcedores, além de serem carinhosos ao extremo, entendem a situação do clube, da cidade e das pretensões econômicas da diretoria. Por não ligarem para rótulos e regras, os excelentes e criativos torcedores do Schalke 04, mantém o clube como um grande e forte lutador, mesmo quando a seca persiste em durar mais algumas temporadas.





7. Çarsi (Besiktas - Turquia)

Esse é um caso parecido com o do Aris, na Grécia. Num cenário dominado por dois gigantes, um terceiro fica meio esquecido pela mídia. Na Turquia, Galatasaray e Fenerbahce são os protagonistas em tudo que é relacionado à esportes. Por possuírem uma rivalidade que beira a irracionalidade, esses dois gigantes turcos acabam escondendo outro grande clube local que possui uma tradição invejável e que também possui grupo de torcedores que coloca em xeque todo esse poderio do Galatasaray como a torcida mais barulhenta do futebol.

A Çarsi, grupo de ultras do Besiktas, é um show a parte! Claro, todos os jogos que envolvem os três grandes clubes da Turquia é um espetáculo inesquecível, porém, mesmo sabendo que dentre os três clubes ela é a que menos tem torcedores, a Çarsi mostra como é que se faz uma festa barulhenta e orquestrada num futebol cada vez mais teatral.

Os torcedores do Besiktas sempre foram considerados os mais fanáticos, supersticiosos e politizados da Europa. Se você for ao Inonu Stadium, a primeira coisa que você reparará é que 90% do estádio fica com os braços em riste para o campo e fazendo garras com as mãos, simbolizando a águia, que é o mascote da equipe. E isso é o tempo todo, meu amigo. E sobre a Çarsi, uma coisa é certa: eles são diferentes de tudo que você poderia imaginar na Turquia. Num país controlado pelo islamismo e direitismo, a Çarsi mantém um posicionamento quase que de esquerda, sendo um dos poucos grupos de pessoas na Turquia que são anti-racismo, anti-sexismo, anti-fascismo, pluralista e ecológico. No ano passado, durante o processo de revolta contra o governo opressor de Erdogan, a Çarsi teve um papel fundamental em realizar manifestações pacíficas em prol da liberdade de expressão e dos direitos humanos básicos que vinham sendo boicotados pelo partido islâmico (maioria no país). Aliás, a Çarsi tem o seu próprio veículo para se locomover aos jogos fora de casa: uma lancha. Por que uma lancha? Agride em menor escala o meio-ambiente.

Sobre o desempenho dos ultras nos estádios, a Çarsi dá o melhor de si com o que ela tem. Tudo o que os fantásticos torcedores do Galatasaray fazem, os do Besiktas fazem igual (e num estádio duas vezes menor), sem dever em nada. O recorde de torcida mais barulhenta do futebol, que hoje é atribuído aos torcedores do Gala, por muito tempo pertenceu aos apoiadores do Besiktas. Além dessas questões e posicionamento político, a Çarsi é famosa pelos cantos de guerra, que são verdadeiras mensagens de amor ao clube. Como os torcedores, e o clube, são pró-liberdade, correm boatos (dignos de relevância) de que o governo interfere diretamente no campeonato para que o Besiktas nunca se torne uma força pensante no país.








8. Homesdale Fanatics (Crystal Palace - Inglaterra)

A revolução chegou ao futebol inglês. Por muito tempo o futebol na terra da Rainha é considerado o mais fascinante de todos, justamente por possuir times ricos e vencedores. Entretanto, algo extremamente nocivo ao futebol inglês está se apoderando dos estádios da Premier League: a platéia teatral. Você provavelmente já ouviu falar sobre o Relatório Taylor, que supervisionado pelo Lorde Taylor, listava em documento todas as consequências e causas do desastre de Hillsborough - tragédia que matou 96 pessoas esmagadas na semi-final da FA Cup de 1989, quando Liverpool e Nottingham Forest se enfrentaram. O relatório também tinha uma lista de como prevenir futuroso problemas e normas para os próximos eventos esportivos da Inglaterra. A solução foi modernizar os estádios e fixar que todos os torcedores teriam que ficar sentados em seus respectivos assentos. Os estádios que não tinham condições de colocar assentos e arrancar o alambrado foram custeados pela FA para se adequar às regras. Câmeras de segurança foram colocadas em todos os estádios para identificar os hooligans e Stewards (seguranças privados) comandavam as ações. A violência extinguiu-se dentro dos estádios, hooligans foram banidos e os estádios melhoraram de qualidade. Porém, como dito antes, as arquibancadas, que outrora servia de referência para todos os outros torcedores do mundo, hoje é tão silenciosa quanto a de um teatro.

Entretanto, na contra-mão dessa realidade, um grupo de torcedores ingleses está chamando muito a atenção na Premier League. A Homesdale Fanatics, uma "firma" do Crystal Palace, tradicional clube londrino, quebra o paradigma instaurado pelo Relatório Taylor, que silenciou os torcedores. Porém, alguns puristas do futebol inglês criticam a Homesdale Fanatics por copiar o jeito ultra de torcer. A cultura influenciada pelo hooliganismo, onde os cantos sempre foram baseados em canções antigas e sobre fatos que aconteceram numa época igualmente longínqua, não vê com bons olhos a utilização de tambores e cachecóis com o nome da firma. No entanto, o estilo animado dos Homesdale Fanatics está influenciando os estádios na Inglaterra. A firma inglesa ganhou notoriedade por fazer mais barulho que qualquer outra torcida, seja no Selhurst Park ou fora de casa. A prova de que a revolução está fazendo efeito é de que até os torcedores do Manchester United, que são os mais "teatrais" da Inglaterra, voltaram a cantar em seus domínios.

Por usar uma cultura diferente de torcer, a Homesdale Fanatics encontrou dificuldades até dentro do clube, pois quem mandava nas arquibancadas eram os hooligans da Dirty 30 (ou D30). Mas, devido a sorte de que os hooligans são proibidos de entrar no estádio, a Homesdale Fanatics foi aos poucos colocando seu nome no canto inferior do Selhurst Park. Os fanáticos, no entanto, não são apenas ultras. Eles se espelharam num modelo que faz sucesso em toda a Europa e adequaram o jeito inglês de torcer, apoderando-se ainda de características dos torcedores casuais, marca registrada na Inglaterra, onde as músicas britânicas de "I Fought The Law (The Clash)" e "Mrs. Robinson (Simon and Garfunkel)" embalam o ritmo dos torcedores. O casualismo não fora abandonado pela Homesdale Fanatics, que se recusa a se "uniformizar", mas, em todos os outros aspectos, ela copia o jeito de pular, de cantar durante os 90 minutos e de girar os cachecóis.

Algo de muito interessante pode trazer de volta a alma futebolística aos estádios da Premier League. O novo mundo está sendo importado pelos ótimos torcedores do Crystal Palace, que apoiados num modelo que funciona na Alemanha, busca animar a platéia e dar um boost nos jogadores. Ponto para a Homesdale Fanatics!






9. Kibice (Lech Poznan - Polônia)

O futebol é como uma religião em muitas partes do mundo. Porém, em alguns lugares ele muda completamente de patamar, assumindo um papel extremamente influente numa sociedade. No Leste Europeu, onde muitos torcedores vão a loucura por seus times locais, o fanatismo beira a incredulidade. Isso acontece porque o futebol assume um papel geopolítico muito forte, numa região muito abastada por federações dissolvidas e assuntos diplomáticos divergentes.

Na Polônia, o futebol é uma religião. Ao contrário da maioria dos países europeus, o futebol polonês não é polarizado. Para um país tão pequeno, e que sofrera inúmeras invasões ao longo da história, ter SETE clubes de massa é algo muito significante. Muitos desses clubes não são conhecidos pelos brasileiros, como o Ruch Chorzow, o Górnik, o Wisla Krakow, o Legia Warszawa, o LECH POZNAN, o Cracovia Krakow e o Pogon. Todos esses times possuem torcedores muito fanáticos, problemáticos e, muitos deles, politizados.

O Lech Poznan é o quinto maior vencedor de campeonatos na Polônia e, ao mesmo tempo, é uma das maiores torcidas do país. No entanto, mesmo sendo de uma cidade suburbana, o Lech possui a mais visceral e encardida torcida da Polônia. Por ser um clube de operários de uma linha férrea, a paciência e a gentileza nunca foram atributos desses torcedores.

O resultado desses elementos é a Kibice, o grupo de ultras mais pulsante do Leste Europeu. Famosa por ser muito (muito mesmo) barulhenta e adorar fogos de artifício, os ultras são daqueles que pouco prestam atenção ao jogo para focar mais na coreografia e nos cânticos. Marcados pelos abusos da Segunda Guerra Mundial, quando a cidade de Poznan ficara sitiada pelos alemães, os fãs do Lech têm um ódio mortal por qualquer um que não seja da cidade. No ponto de vista desses torcedores, a Polônia largou a cidade à mercê dos alemães. Como o futebol sempre fora uma válvula de escape para as pessoas, o Lech virou um clube de ideais e a Kibice uma seita. Todos os integrantes desse grupo possuem tatuagens com relação a entidade e ao clube, além de assinarem uma carta de compromisso de caráter.

Os principais momentos da Kibice são nos dérbis contra o Legia Warszawa, inimigos mortais do Lech. Os mosaicos são lindos, dignos da Muralha Amarela do Borussia Dortmund. Além disso, os gritos, sempre orquestrados pelo líder, servem como cartões de visita da Kibice. Outro grande detalhe sobre essa torcida é a tríade que comanda as ações dos fanáticos pelo clube polonês. Situados no lado norte do estádio, atrás do gol, a tribuna possui uma pequena jaula onde três torcedores ficam a frente dos demais e de pé. O puxador dos coros e palmas fica no meio da jaula com um megafone. Os outros dois integrantes ficam encarregados de tocaram sincronizadamente os dois tambores que estão posicionados na lateral da jaula. Atentos aos movimentos dos três, a torcida vai no embalo e protagoniza uma aula de apoio ao time. Mas, sem sombra de dúvidas, o grande momento da Kibice é o "The Poznan", quando todos os torcedores ficam abraçados de costas para o jogo e começam a pular e gritar. O fenômeno é tão sensacional que os fãs do Manchester City não têm vergonha de dizer que roubaram a comemoração da "melhor torcida do mundo".

Aliás, um dos maiores momentos do futebol, na minha opinião, pertence à Kibice, que levou 250 torcedores para o estádio do Lech Poznan SUB-12 para apoiar a equipe num jogo contra o Tottenham. Sim, 250 MARMANJOS LOUCOS NUM ESTÁDIO PARA APOIAR O TIME SUB-12 DO LECH. Assista, é o primeiro vídeo.









10. Magic Fans (Saint Etienne - França)

Quantas vezes você já deparou com a dúvida recorrente que envolve o futebol francês e os seus clubes? A cada ano surge uma "surpresa" na Ligue 1, com clube milionários e jogadores interessantes. O primeiro clube francês que vem a cabeça de muitas pessoas é o PSG, clube milionário que fora criado na década de 1970 para ser o maior de todos (clique aqui para conhecer a história do clube). Depois do ex-clube do Raí, provavelmente o mais conhecido é o Lyon, heptacampeão sob a batuta de Juninho Pernambucano. Atualmente, o Mônaco tem ganhado mais espaço na mídia por ter se tornado num novo rico, e subsequente é bem lembrado pelas pessoas. No entanto, os dois maiores clubes, e também mais histórico desse país, são pouco lembrados pela maioria das pessoas. O clube de maior torcida na França é o Olympique Marseille (Olympique de Marselha), mas, o time de maior importância é o Saint-Etienne, da cidade que carrega o nome.

Por que o Saint-Etienne é tão importante? Ao todo, Les Verts têm 14 campeonatos franceses (4 deles na era amadora) e foi base da seleção francesa até meados da década de 1990, quando o Marseille emergiu. Para contextualizar a situação do Saint-Etienne, é só olhar para o Santos, um clube grande que veio de uma cidade que não é capital.

A sua torcida é extremamente fanática e old school, bem diferente das outras torcidas do país e totalmente diferente dos clubes da capital francesa. Os fãs do Saint-Etienne, a Magic Fans, são um dos fundadores do movimento "contra o futebol moderno", que se originou na Europa. Por ter ficado no ostracismo do futebol devido aos montantes de dinheiro que fora injetado em clubes como PSG, Olympique Marseille e Mônaco, o pobre coitado do Saint-Etienne, que sempre andara com suas próprias pernas, fora velado para fora do futebol de elite.

A Magic Fans, além de ser old school, têm uma particularidade muito legal sobre seu modo de torcer. A avalanche, famosa no Brasil por causa da torcida do Grêmio, está sempre presente no meio dos torcedores dos Verts. Dizem que a avalanche originou-se na Argentina, mas, segundo os franceses, essa comemoração pertence aos fãs do Saint-Etienne, que a Magic Fans abusa e desusa durante os jogos. Outra diferença visível desses torcedores do Saint-Etienne é que eles não são ultras, e se parecem muito com os hinchas argentinos. O Stade Geoffroy-Guichard torna-se num verdadeiro caldeirão devido a pressão imposta pelos Magic Fans.








11. Fedayn E.A.M (Napoli - Itália)
O Napoli ficou muito conhecido no Brasil durante a década de 1980, quando o clube do sul da Itália formou um timaço com Maradona e Careca. Entretanto, o Napoli nunca fora uma equipe vencedora, de participação salutar no campeonato italiano. Porém, mesmo tendo míseros NOVE títulos, os torcedores do Napoli nunca se deixaram levar pelas medalhas, troféus e scudettos. Falando em scudettos, os únicos dois campeonatos que a equipe conquistou fora sob a batuta de Maradona e Careca, em 1986/87 e 1989/90. No entanto, o grande momento desse tradicional clube azzurri é a antiga Copa da Uefa de 1988/89, que tem um peso significativo no calejado coração dos fãs do Napoli.

Entretanto, o que faz desses torcedores ser um grupo tão especial? Para entender, vamos a uma pequena contextualização sobre a Itália. A cidade de Nápoles fica ao sul da Itália, na região de Campania, e só foi fazer parte, realmente, da Itália em 1861. Porém, devido ao jeito peculiar de seu povo, os habitantes da região metropolitana de Nápoles sofrem muito preconceito da parte norte da Itália (Roma, Milão e Turim, por exemplo). O motivo? Segundo os preconceituosos, o povo de Nápoles é "sujo" e "barulhento". Quem já viveu, ou visitou Nápoles, confirma esse prognóstico dos moradores de Roma e Milão de que o povo é mesmo "sujo". Todavia, já é sabido que as províncias italianas adoram um preconceito, uma briga e, acima de tudo, uma disputa. Por mais que as pessoas oriundas de Nápoles se importem menos com a limpeza do que a nobreza nortista, existem muitas coisas belas vindas desse lugar que causam inveja em toda Itália. A maior delas é a pizza, o maior orgulho dos italianos. A pizza fora inventada pelos napolitanos, além de quase todo tipo de iguaria que a acompanha é de origem napolitana. Por ser muito próxima do continente africano, e ter um porto muito gigantesco, a cidade de Nápoles é uma miscigenação muito forte de culturas, o que contribui para todo o preconceito sofrido.

Contudo, o povo dessa cidade também sofre com outro preconceito: a máfia. A famosa máfia napolitana é uma das mais organizadas e cruéis da Itália, interferindo diretamente no poder e modo de viver de toda cidade. Apesar do forte esquema de inteligência da polícia italiana, a máfia continua atuando debaixo da cutícula da sociedade italiana, e interferindo até no futebol. Dizem as más línguas que o Napoli só é o que é hoje devido ao dinheiro e ao medo imposto pelos mafiosos na federação de futebol italiana. Pouco se sabe da origem do investimento que tirou o Maradona do Barcelona e o trouxe ao Napoli, e também pouco se sabe das raízes dos mafiosos com o clube, só que, devido ao histórico de seu povo, muito se julga sem ao menos terem provas.

Vivendo nesse cenário, os torcedores do Napoli sofrem com o preconceito brutal dos italianos. Muitos desses torcedores não se julgam italianos, e sim napolitanos. O laço entre os tifosis com os jogadores é mais que fraternal, o que conta muito no desempenho do time dentro de campo. A atmosfera do San Paolo, estádio do Napoli, é diferente de qualquer outro campo da Itália. Rojões, sinalizadores, buzinas e muito batuque fazem com que a pressão exercida pelas "curvas" seja a mais absurda da Itália. Os tifosi da Fedayn E.A.M (ou Fedayeen) são os grandes responsáveis pela festa e pela proteção do "napolitanismo". Como dito antes, a miscigenação de povos na região de Nápoles é muito grande, e uma dessas culturas que fazem parte do "napolitanismo" é a árabe. Fedayin, que em árabe significa "por aqueles que vivo" ou "devoto", é uma ramificação dos ultras e tifosi italianos, e que fora criado em Nápoles para ser um grupo de combatentes que tem o intuito de proteger o povo de outras culturas. Como o povo napolitano sofre muito com o preconceito, a ação dos Fedayn é bem mais poderosa. A sigla E.A.M, que em italiano significa Estranei Alla Massa (Estranhos da Massa), mostra que eles sabem e aceitam a alcunha de "estrangeiros" dentro da Itália.

Por serem extremamente barulhentos, briguentos e tradicionalistas, a Fedayn E.A.M é o grupo de tifosi mais apaixonado em um país igualmente apaixonado por futebol (e briga). Sem se importar com títulos, mas sempre se importando com o clube e suas raízes, os multiculturais da curva napolitana são fantásticos e tornam o San Paolo uma visita obrigatória na Itália. A relação entre Fedayn e Napoli gerou até um filme, que você pode assistir aí embaixo.








12. Ultras Eagles/Curva Sud Magana (Raja Casablanca - Marrocos)

Um país completamente fascinado por futebol, orgulho e negócios. É disso que vive o marroquino, que, sem dúvidas, é um povo que respira o esporte rei. Um país cuja língua oficial é totalmente ofuscada pelo futebol, e só é falada em negócios e na escola, recebe uma influência gigantesca do francês, italiano, castellano e português.

Recentemente, o Raja, que já havia aparecido nas telas brasileiras durante o Mundial de 2000 no Rio de Janeiro, ficou mais conhecido por ter derrotado o Atlético Mineiro no Mundial da Fifa de 2013. Entretanto, não fora só o futebol que chamou a atenção para o Raja, mas também a sua torcida. Muitos veículos ficaram espantados pelo apoio incondicional dos ultras e das curvas sul do estádio Mohamad V. Porém, por falta de "conhecimento", a mídia não sabe o quanto o marroquino ama o futebol e os seus clubes.

Seria muito fácil para uma ex-colônia francesa ter, em sua maioria, torcedores do PSG, Olympique e Saint-Etienne, mas não é essa a realidade. Numa liga pobre e quase sem dinheiro para premiações, a força e o amor superam a vontade de torcer por clubes ricos e vencedores, e fazendo com equipes tradicionais no continente africano tenham uma torcida digna de uma liga proeminente. Imensamente influenciados por vídeos no Youtube, os ultras marroquinos se inspiram em torcedores italianos e argentinos, o que é visível em muitos vídeos com seus cânticos perfeitamente compreensíveis.

Sempre fazendo festas nas arquibancadas, os Ultras Eagles, que ficam situados na Curva Sul (Curva Sud, em italiano), no setor Magana, levam cores e emoção à um continente esquecido pelos especialistas em futebol. A África, que tem alguns clubes muito tradicionais, também é referência no jeito de torcer. Como a maioria das pessoas no Marrocos são de origem islâmica, a doutrina dessa religião também reflete no comportamento orgulhoso dos ultras, que compõem músicas muito bonitas e bandeiras com mensagens e desenhos politizados e ameaçadores. Rojões, mosaico e sinalizadores, marca registrada dos tifosi italianos combinados com murgas e bandeirolas argentinas, ao mesmo tempo que todo mundo salta, é a mutação de Casablanca, na curva mais pulsante do continente.








13. Celtic Fans/The Casuals (Celtic - Escócia)

Antes que o futebol fosse tomado por torcidas organizadas, ultras, barra bravas e hooligans, havia apenas um tipo de torcedor nos estádios: os casuais (ou casuals). Esse tipo de torcedor não precisa de um nome, apenas uma ideologia e um grupo de pessoas que estejam dispostos a torcer fervorosamente pelo time.


No entanto, na Escócia, uma ideologia custa bem caro para qualquer um. Como todos sabem, o país do kilt ainda convive com o sectarismo religioso entre católicos e protestantes. Isso já é o suficiente para separar a cidade de Glasgow em duas equipes: Celtic (católicos) e Rangers (protestantes). Portanto, o time, no caso desses dois, é mais do que torcer, é uma maneira de viver. Se você é católico, o seu time é o Celtic. Se você é protestante, a sua devoção vai ao Rangers.

O que torna os torcedores do Celtic diferente dos outros na Escócia (e até no Reino Unido) é a maneira como eles encaram o futebol. Como o catolicismo era a minoria na Escócia quando um grave problema de fome atingiu o país até meados da década de 1910, os torcedores aprenderam que ficar juntos era a melhor maneira de sobreviver. Os apoiadores do Celtic, como dito antes, não fazem o uso de uma alcunha, eles são apenas o Celtic. Os jogos dos Tims (o apelido é originário de Tim Malloys, que era um grupo de católicos que se reuniam para praticar a religião e se proteger dos protestantes) serviam de animação para que os católicos prosperassem em busca de uma vida mais adequada.

Mesmo sendo uma equipe tradicional na Europa, e grande na Escócia, o Celtic ainda carrega a chaga de ser um clube subestimado, e muitas vezes esquecido por quem gosta dos espetáculos produzidos pelas torcidas ao redor do planeta. O famoso hino "You'll Never Walk Alone", que é mundialmente conhecido por ser cantado pela torcida do Liverpool, também faz parte do repertório dos torcedores do Celtic. Apesar de, historicamente, de não terem começado a cantar o hino primeiro, a maneira como é entoado o hino pelos torcedores do Celtic causa arrepios até nos fãs do Liverpool. Sofrido, como deve ser cantado - assim como foi a maior parte da vida dos Tims -, o espetáculo que é gerado em torno dessa música quando os casuais do Celtic cantam é absurdo.

Entretanto, engana-se quem pensa que é só esse hino que é cantarolado pela torcida no Celtic Park. "Just Can't Get Enough", do Depeche Mode, é outra música, que não sofre nenhuma alteração, cantada nos jogos dos Tims. A relação surgiu depois que o clube escocês emendou uma larga sequência de títulos e começou a vencer os Rangers com maior frequência durante o Old Firm. Além disso, outros cânticos são memoráveis e lindos, mostrando que a velha máxima de que "quem canta os seus males espanta" funciona perfeitamente por essas bandas desde 1900. É na base do gogó que os torcedores transformam o Celtic Park no terceiro estádio mais impressionante para se torcer no mundo, segundo uma revista francesa. Outro destaque muito legal sobre os casuals, e a torcida em si, é o seu humor, que muitas vezes é politicamente incorreto. Bandeiras e cachecóis constantemente possuem mensagens tirando sarro do adversário, de sua nação caso seja estrangeiro. Além disso, os torcedores costumam brincar muito com a cultura pop em suas "homenagens". No penúltimo vídeo você encontra uma filmagem especial sobre o jogo Celtic vs Barcelona, onde tem de tudo que é necessário para admirar essa torcida fanática dos Tims.





Paródia dos torcedores com o lendário álbum London Calling, do The Clash, no jogo contra a Juventus, no Celtic Park



14. Urawa Reds (Urawa Red Diamonds - Japão)

Antigamente, aqui no Brasil quando um jogador de futebol era muito ruim costumava-se chamá-lo de "japonês". Ao longo dos anos, o Japão, cuja tradição no futebol era nula, mudou completamente de cenário. Os japoneses, que com a influência de Zico e outros grandes jogadores brasileiros que por lá passaram durante a década de 1980 e 1990, viram a sua paixão pelo futebol aumentar ao ponto de hoje ser igualada ao beisebol, esporte mais praticado pelos asiáticos.

Entretanto, os japoneses não só aprenderam a jogar futebol (vide os resultados dos nipônicos em competições oficiais), mas também aprenderam a torcer. E aprenderam muito bem! No mesmo ritmo em que as nossas torcidas desaprenderam a torcer, os japoneses mudaram o seu modo de comportamento nas arquibancadas dos belíssimos estádios que foram construídos durante a estadia de Zico na terra do Sol Nascente. Com coreografias milimetricamente projetadas com uma precisão típica desse povo, os nipônicos vem dando um show em cada partida pela J League. Tambores, um dos símbolos da cultura medieval do Japão, também são obrigatórios para que o espetáculo esteja completo.

Nesse ritmo crescente e de muito fanatismo, uma torcida demonstra ser especial. Em Urawa, o Red Diamonds, um dos times mais antigos do Japão, cultiva uma tradição longínqua que aprendera com os ingleses e franceses que habitaram a região por algum tempo. Apesar de ter conquistado apenas uma liga japonesa, o Red Diamonds é famoso por ser copeiro. Nesse ritmo aguerrido, a Urawa Reds, torcida organizada mais famosa do Japão empurra o Red Diamonds para mais uma batalha. Apelidada de "La 12 japonesa", os fanáticos da Urawa Reds são famosos pelo "We Are Diamonds (Nós Somos Diamonds)", um dos cânticos mais bonitos do futebol. Inspirados na harmonia de "Sailing", do escocês Rod Stewart, os torcedores cantam em uníssono essa grande canção que, em proporções históricas diferentes, é parecida com "You Never Walk Alone", cantada pelos torcedores do Liverpool antes da equipe subir ao gramado.

O ambiente nos jogos do Urawa são completamente atípicos das outras atmosferas na J League, por mais que eles tenham se "fanatizado". A torcida do Urawa é diferente, pois ela já presenciou muitas decepções e um descenso em 1999. Após amargurar um rebaixamento, os torcedores prometeram ficar próximos ao clube, independente da situação. Os Reds também são diferentes no comportamento fora do estádio, rasgando todos os manuais sobre o bom comportamento dos japoneses. Com o estádio de Saitama completamente lotado em todas as partidas, os torcedores apresentam um verdadeiro show em vermelho e preto. Quase ninguém vai ao estádio de outra cor, é impressionante! Preste muito atenção no terceiro vídeo e veja o que eles fizeram durante uma disputa de pênaltis numa semi-final de ACL (Asia Champions League), em 2007. Ah, eles foram os campeões. 








15. Delije (Estrela Vermelha - Sérvia)

Imagine um guerreiro forte, alto, trabalhador e bravo. Imaginou? É isso que significa essa palavra quase impronunciável aí em cima, a Delije. Se você levar em consideração o que o Estrela Vermelha (Red Star ou Crvena Zvezda) representa para o Leste Europeu, e especialmente para a Sérvia, a palavra Delije realmente tem tudo a ver com o clube.


Fruto de um país que vive numa eterna ebulição devido a dissolução de regimes políticos, de desunificação de nações e ódio religioso, o futebol acaba sendo sugado para essa atmosfera estável. Apesar de ser muito perigosa fora do estádio, a Delije é igualmente famosa por ser um espetáculo a parte no campeonato sérvio. Com um estilo próprio de torcer, os sérvios do lado vermelho e branco de Belgrado são apaixonados por gritaria e sinalizadores.

A fama de "metidos" da Delije vêm do passado glorioso do Estrela Vermelha, que fora campeão da Champions League em 1990/91, que é um feito gigantesco considerando-se o fato de que rival na final fora o timaço do Olympique de Marseille. Além disso, o clube é o único do Leste Europeu a ganhar uma UCL e a antiga Copa da Uefa. Geralmente, um clube com tantos títulos costuma causar inveja em outros clubes locais que não possuem a mesma garbosidade. E com o Estrela Vermelha não é diferente, todos os times da antiga Iugoslávia odeiam o tradicional clube sérvio. Ciente de todo esse drama, a Delije contribuí para que esse ódio aumente cada vez mais ao cantar mais alto que todo mundo em qualquer estádio que visite.

A moral da Delije é tão grande, que o próprio Estrela Vermelha resolveu homenagear a principal torcida pintando o nome dela na tribuna norte do FK Crvena Zvezda. Seguindo a linha ortodoxa do clube, a Delije baseia seus cânticos em tons políticos e altivos. Além disso, a torcida também permite que outras "sub torcidas" se aproximem de sua tribuna, mas desde que se submetam ao estilo dela própria. Outro ponto destacável da Delije é que a grande parte de jogadores de origem sérvia-ortodoxa são seus filiados, permitindo-os cobrar 90% do elenco para melhores resultados.

Por ser presente no dia-a-dia do clube, a Delije é capaz de influenciar quem ela quiser e quando ela quiser no clube. Todavia, ela procura não misturar o joio com o trigo quando tem que apoiar a equipe dentro do estádio, local onde é praticamente imbatível.

Apesar de ter um estilo hard core de torcer (típico dos sérvios), a Delije, que sempre está disposta a fazer o extremo por seus ideias, se preocupa o máximo para deixar suas apresentações esteticamente bonitas. Usualmente, o líder nem presta a atenção no jogo pois está de costas para o gramado apenas observando sua torcida e os pontos que devem ser melhorados. Muitos de seus cânticos tem cunho político envolvido, muitas reivindicações e insultos à outras ideologias, porém, a maioria é videada para o time, sempre buscando ser a mais alta do estádio, apenas no gogó e, quase sempre sem um apetrecho de percussão. O motivo? Ora, eles não um bando de guerreiros trabalhadores, bravos e altos? Isso é a Delije.







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